Hoje acordei com a garganta parecendo lixa de ferro. O médico disse “descansa”, mas a minha cabeça já tava fazendo drible de cabeça na cama. Pensa num cara que tem 35 anos filho de pai que já viu o Palestra Itália ganhar de 2‑0 no Morumbi e que agora tem que escolher entre a coberta quente e o Allianz. Decidi que o cobertor era mais confiável e enquanto a febre me deixava meio zumbi liguei a TV peguei a cerveja que tava gelada na geladeira (a que a mãe guardou pra “quando precisar”) e me preparei pra assistir ao treino que na real virou um show particular.
O elenco? Desfalcado como fila de banco na segunda-feira. Dudu Rony Gustavo Gómez até o Deyverson parecia ter marcado férias sem avisar. Só o Vitor Roque apareceu com a cara de “tô aqui pode contar comigo”. E não é que o garoto fez dois gols? Primeiro um chute de fora da área que pegou a trave e ainda ricocheteou na rede como se fosse bola de ping‑pong. Depois um voleio de primeira que fez a bola quase voar direto pro céu mas a bola deu uma curva digna de Neymar em 2015 e acabou no canto esquerdo do gol. Eu gritei “É isso aí moleque!” tão alto que a vizinha bateu na porta e perguntou se eu tava reclamando da rua. Não vizinha eu tava comemorando.
➤ O que faltou no gramado (e o que sobrou no meu bar)
Sem Dudu o meio‑campo ficou mais vazio que fila de cinema em dia de estreia. O técnico (que parece que tá sempre de pijama) tentou improvisar: colocou um zagueiro na meia‑campo fez o lateral virar volante e ainda tentou colocar o goleiro como atacante. Resultado? Uma sequência de passes que mais parecia um jogo de dominó caindo. Mas o que realmente salvou o treino foram os três caras que ainda estavam: Vitor o novo “coração de ouro” da torcida e dois jovens que eu nem reconheço o nome. Eles correram suaram e fizeram o gramado parecer pista de corrida de Fórmula 1.
Enquanto tudo isso rolava eu lembrei de um bar que abriu na esquina do Allianz bem ali onde antes tinha um posto de gasolina que vendia “pinga de verdade”. O lugar se chama “Botequim do Zé” e tem a melhor caipirinha de maracujá da cidade (a que tem mais limão que maracujá mas ninguém reclama). Dica aleatória: se pedir a “caipirinha da vitória” o garçom ainda faz um brinde especial ao Verdão. Curiosidade: o bar tem um radinho de pilha antigo que toca “Aquarela do Brasil” toda vez que alguém entra. Eu sempre fico pensando se o som do rádio tem alguma conexão mística com as vitórias do Palmeiras. Não sei mas já ouvi o som do rádio antes de algum gol importante então quem sabe?
➤ Memórias que batem na porta da consciência
Quando eu era moleque meu pai me levava pro Palestra Itália que na época ainda tinha aquele cheiro de grama úmida e de churrasco da cantina. Lembro de ele me ensinando a cantar o hino de peito aberto mas sempre errando a parte “Avante Avante”. Eu cantava “Avante Avante avante avante” e ele só dava risada dizendo que eu tava mais pra “avante avante avanta”. Hoje ouvindo o som da torcida no treino ainda sinto aquele mesmo arrepio só que sem a gritaria da arquibancada só a minha voz ecoando na sala.
E tem mais: na infância eu tinha um radinho de pilha que pegava só três estações mas uma delas era a transmissão ao vivo dos jogos do Palmeiras. Quando a pilha acabava eu corria pro canto da casa e ficava rezando pro papai colocar outra pilha. Agora com a gripe o único “radinho” que funciona é a TV e a pilha que eu preciso recarregar é a minha energia. Mas o Vitor Roque com aqueles dois gols foi tipo aquela última pilha que salva o dia. Ele fez dois gols que nem eu consegui contar direito porque a febre me fez enxergar tudo meio borrado mas a sensação de ver a bola na rede foi tão forte que eu quase deixei a cerveja cair. Só não deixei porque a cerveja já tava gelada demais pra perder.
Não tem como negar o treino foi um caos organizado como aquela festa de aniversário que a gente tenta montar mas acaba virando um churrasco improvisado. O elenco faltou a estratégia foi meio “quem sabe?” mas Vitor Roque mostrou que tem sangue verde nos veios. Ele fez dois gols que nem eu consegui contar direito porque a febre me fez enxergar tudo meio borrado mas a sensação de ver a bola na rede foi tão forte que eu quase deixei a cerveja cair. Só não deixei porque a cerveja já tava gelada demais pra perder.
Se tem uma lição desse dia é que a gripe pode te segurar no sofá mas não pode segurar a paixão. Enquanto o bar do Zé serve caipirinhas e o radinho antigo toca “Aquarela do Brasil” eu fico aqui digitando rápido quase tropeçando nas palavras mas feliz de ter testemunhado mesmo que de longe dois gols que prometem muito pro próximo jogo. E se o Palmeiras ainda tá com o elenco meio esparramado a gente tem Vitor Roque pra lembrar que às vezes basta um garoto pra fazer o resto do time parecer completo
(Se alguém quiser marcar a próxima reunião de torcedores no Botequim do Zé avisa aqui eu levo a cerveja vocês trazem a energia ou a outra coisa que a gente sempre esquece a pilha do radinho)
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