Encontrar esquema, recuperar medalhões e levantar astral: os desafios de Enderson no Novorizontino

Quando a febre me derrubou em março de 2025 a única coisa que me salvou foi a TV da sala. Passei dias em casa coberto de cobertor assistindo cada partida do Campeonato Paulista como se fosse final de Libertadores. O Novorizontino virou companhia constante e eu acabei anotando tudo nos cantos do meu caderno de anotações de torcedor — aquele que tem um adesivo do mascote (um cachorro de óculos) colado na capa. Enquanto o vírus me tirava o fôlego o time me deu motivos pra respirar fundo.

➤ O quebra-cabeça tático de Enderson

Enderson Moreira chegou ao clube com a missão de transformar o estilo “casa de campo” em um futebol que surpreenda a galera da zona rural. Na primeira semana ele trouxe um quadro branco um marcador neon e uma caixa de giz de cera. Eu ri mas o técnico não. Ele desenhou um esquema 4‑3‑3 que parecia mais um labirinto de corredores de supermercado. Cada linha tinha setas círculos e até um smiley amarelo que indicava “ponto de fuga”.

O primeiro treino viu o volante Gustavo “O Canário” tentando fazer a bola girar como um pião. O treinador gritou: “Segura a bola não deixa ela fugir!”. O cara acabou chutando a bola para a arquibancada onde um senhor de 70 anos que jurava ser ex-jogador de futsal pegou o rebote e fez um gol de cabeça. O time riu eu ri a internet travou e o técnico anotou “cuidado com a bola voadora” no quadro.

Enderson percebeu que o esquema precisava de ajustes. Ele simplificou a lateral direita tirou o meia avançado que ficava “flutuando” como balão de festa e colocou o jovem atacante Lucas “Bico” para fechar a zona. O resultado? No segundo jogo o Novorizontino marcou três a zero contra o São Caetano e a torcida do interior cantou até o fim da madrugada. Eu deitado na cama gritei “É isso aí!” mas o microfone do meu notebook falhou. Só o teclado fez barulho.

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➤ Medalhões perdidos e achados no vestiário

A história dos medalhões virou lenda nos bastidores. No fim da temporada passada o capitão Bruno recebeu um conjunto de medalhões de prata para cada jogador que completasse 30 partidas. O problema foi que o responsável pela entrega o assistente de produção confundiu a caixa com a de “troféus de churrasco”. Quando o time chegou ao vestiário encontrou um monte de tábua de carne e um único medalhão brilhando no canto.

Enderson que já tinha visto de tudo não perdeu tempo. Ele mandou o preparador físico o Renan procurar nos cantos do estádio. Renan encontrou um medalhão dentro da caixa de primeiros socorros ao lado de um curativo de bandagem azul. A explicação? Um jogador que sofreu corte na perna usou o curativo e sem querer guardou o medalhão junto. O time riu a imprensa fez manchete e eu escrevi um post no blog intitulado “Como achar tesouro no hospital do futebol”.

Depois disso Enderson criou um ritual: antes de cada partida os jogadores se reúnem ao redor da caixa de primeiros socorros e dão um “tchau” ao medalhão que ficou perdido. O ritual ajuda a levantar o astral porque ninguém quer entrar em campo sem o talismã de prata. Eu já vi o goleiro Felipe que tem medo de escuro acender uma vela de LED e fazer a promessa de não deixar a bola entrar. O humor leve acabou se tornando parte da identidade do clube.

➤ Café, internet lenta e a vida de torcedor

Na manhã de domingo enquanto o relógio marcava 9h30 eu preparei um café forte coloquei a caneca na mesa e tentei abrir o site oficial do Novorizontino. A página ficou carreg como se fosse um filme de 90 minutos. Eu resmungei: “Tá de sacanagem internet eu tô aqui pra ler notícia quente!”. Quando a página finalmente abriu o título dizia “Novorizontino surpreende com vitória inesperada”. Eu já sabia da vitória mas ainda assim a sensação de descobrir algo novo deu um gás no coração.

Entre um clique e outro percebi que o técnico tinha dado uma entrevista onde revelou que na próxima rodada o time usaria a camisa de treinamento amarelo fluorescente. Segundo ele a cor ajudaria a “espantar os maus espíritos” que segundo a lenda da cidade moram nas linhas laterais do campo. Eu ri mas a torcida do interior adorou a ideia. Alguns fãs começaram a pintar as varais de roupa nas casas de amarelo como se fosse um amuleto coletivo. O clima ficou tão animado que até o vizinho do lado que nunca saiu de casa apareceu na porta com uma bandeira do clube balançando.

Eu escrevi tudo no blog mas a conexão caiu de novo. Quando recuperei o sinal percebi que tinha deixado um parágrafo incompleto: “O técnico prometeu que a próxima partida será ainda mais…”. Não sabia terminar então deixei o suspense no ar. O leitor acabou preenchendo o vazio com a própria imaginação e eu gostei do efeito.

Enderson Moreira, técnico do Novorizontino

➤ Conclusão

Enderson ainda tem muito chão a percorrer. Ele precisa equilibrar a criatividade dos treinos com a disciplina tática que o campeonato exige. Os medalhões já foram recuperados mas o espírito de busca continua como se cada partida fosse uma caça ao tesouro. Levantar o astral da equipe depende de detalhes – um sorriso no vestiário um café forte uma internet que às vezes decide descansar.

Para quem acompanha o Novorizontino de dentro de casa como eu a história do técnico se mistura com a própria vida febre cobertor café amargo e a esperança de que o próximo jogo traga mais vitórias mais medalhões e quem sabe menos falhas de conexão. O interior vibra o time luta e a gente segue escrevendo mesmo que a internet insista em dar uma pausa. Afinal a paixão não tem buffering.