Cruzeiro faz história e quebra recorde de público no futebol feminino

Cheguei ao Mineirão com a galera do bar, todo mundo carregando bandeirinhas, camisetas amassadas e aquele cheiro de café que nunca sai da cabeça quando a gente pensa em partida. O ônibus que nos trouxe tava tão cheio que eu quase encostei a cabeça no ombro de um senhor de 80 anos que falava alto sobre o último clássico do time masculino. Ele me contou, entre um gole de água e outro, que nunca tinha visto uma partida feminina com tanta gente. Eu ri, porque ele tinha razão: a imprensa falava de “recorde de público”, mas a gente sentia na pele o barulho das vozes, o som dos gritos, a vibração do chão.

No caminho, a rua da Praça Sete virou pista de desfile improvisado. Um carro de som tocava o hino do Cruzeiro em versão pop, e um grupo de estudantes de faculdade saiu do carro cantando “Eu sou Cruzeiro, eu sou fanático”. Eles tinham pancartas que diziam “Mulher no campo, poder na rede”. Eu peguei a primeira que vi e gritei “É isso aí!”. A gente ainda parou num ponto de venda de pastel de carne. O pastel era tão grande que eu quase precisei de duas mãos pra segurar. Enquanto mascava, notei que o vendedor usava um chapéu de palha que parecia ter sido roubado de um filme de faroeste. Ele me deu um sorriso de “tá tudo bem”, e eu paguei com moedas que eu nem sabia que ainda tinha.

Nota curiosa 1: no meio da fila do pastel, apareceu um cachorro de raça Pug vestindo uma mini camisa azul, como se fosse o mascote oficial. O bicho entrou na fila, recebeu um biscoito e saiu como se fosse o dono da partida. Todo mundo tirou foto, e eu quase deixei o pastel cair de tanto rir.

Cruzeiro 2 x 2 Corinthians

➤ O jogo que virou festa: gols, gritos e pastel de carne

Quando as portas se abriram, a energia já tinha subido a mil. O estádio parecia um caldeirão, a torcida cantando, batendo palma, e até a arquibancada de trás, que normalmente fica vazia, estava cheia de gente que nem sabia quem era o time. Eu sentei perto do setor de famílias, onde as crianças corriam com mini bolas de futebol e as mães tentavam segurar a empolgação. Ao meu lado, um senhor de terno cinza, que eu nunca tinha visto antes, estava vestindo uma camisa do Cruzeiro do tamanho de um bebê. Ele explicou que era o tio da esposa e que tinha vindo só para apoiar a filha, que joga no time sub-17. Ele começou a cantar o hino com a voz mais desafinada que já ouvi, mas a gente não ligou, porque a vibe era contagiante.

O apito inicial trouxe um rugido que fez o chão tremer. A primeira jogadora a tocar a bola foi a atacante, que driblou duas defensoras como se fossem cones de treinamento. Ela cruzou a bola e o gol chegou nos pés da centroavante, que disparou um chute de esquerda que acabou batendo na trave. O estádio explodiu em gritos, e eu quase caí da cadeira de tanto pular. O segundo tempo foi ainda mais intenso. O Cruzeiro abriu o placar com um gol de cabeça após escanteio, e a torcida soltou fogos de artifício de mão (tipo aqueles que a gente compra no mercado). O barulho fez o mascote, um cavalo inflável, balançar tanto que quase se soltou do cabo.

No intervalo, a comida virou assunto principal. O lancheira do estádio oferecia “pão de queijo recheado com calabresa”, “cachorro-quente vegano” e “suco de acerola” que, segundo o vendedor, “tem mais energia que café”. Eu experimentei o pão de queijo e, de repente, senti um sabor que me fez lembrar das festas de família da minha avó. Enquanto isso, a arquibancada ao lado começou a fazer a coreografia “onda azul”, mas com um toque de samba. Todo mundo levantava as mãos, batia no peito e cantava “Ôôô, Cruzeiro, vamos ganhar!”. A energia era tão alta que eu quase ouvi o som da própria bola batendo no gol antes de chegar lá.

Nota curiosa 2: um grupo de estudantes de biologia trouxe um microscópio portátil para observar as “células de emoção” na torcida. Eles juravam que o nível de dopamina subia sempre que o time marcava. Eu não entendi nada, mas a gente riu e aplaudiu a ideia.

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➤ Depois do apito final: festa, histórias e um final inesperado

Quando o árbitro apitou o fim da partida, o placar mostrava 3 a 1 a favor do Cruzeiro. A torcida explodiu, e eu percebi que o recorde de público tinha sido batido de forma tão clara que até o segurança da porta de entrada, que normalmente fala “não é permitido entrar”, saiu cantando “É campeão!”. A gente saiu do estádio como se fosse um grande bloco de carnaval, com bandeiras balançando, gente abraçando desconhecidos e até o senhor de terno cinza que eu mencionei antes começando a vender adesivos de “Eu amei o feminino”. Ele me deu um grátis, dizendo que “a gente tem que apoiar, né?”.

Na saída, encontrei um grupo de meninas de 12 anos que estavam vestidas com uniformes do time e carregavam um cartaz que dizia “Queremos mais jogos como esse!”. Elas me perguntaram se eu era torcedor de verdade, e eu respondi “Claro, sou da família Cruzeiro desde que a gente jogava bola na rua”. Elas me deram um autógrafo improvisado em um guardanapo de pastel. Eu guardei como troféu.

A noite terminou em um bar próximo ao estádio, onde a gente ainda comemorava. O bartender serviu “caipirinha de maracujá” e “cerveja gelada”. Um amigo meu, que nunca tinha ido a nenhum jogo, acabou cantando “Eu sou Cruzeiro” tão alto que o garçom pediu para ele baixar o volume. Eu ri, porque a gente estava tão empolgado que parecia que o bar tinha virado outra arena. No final, o cara ainda me contou que tinha perdido o ônibus de volta e acabou dormindo no sofá do bar. Ele acordou na manhã seguinte com a cabeça cheia de lembranças de gols, risadas e o cheiro de pastel ainda no ar.

Nota curiosa 3: no caminho de volta, o trânsito estava parado porque um caminhão de sorvete ficou preso na avenida principal. O motorista, ao ver a multidão de torcedores, decidiu abrir a porta e distribuir sorvete grátis. Foi a melhor sobremesa que eu já comi em um dia de jogo.

Enfim, a final de 2025 ficou marcada não só nos números, mas nas histórias que a gente carrega. Quebrar recorde de público foi só a ponta do iceberg; o que realmente fez a diferença foi a energia da gente, a comida, os encontros inesperados e o fato de que, pela primeira vez, o feminino recebeu o mesmo carinho que o masculino. Se tem uma coisa que aprendi, é que o futebol tem poder de unir, de transformar, de fazer a gente rir até quando a bola não entra. E eu, como torcedor de coração, já tô contando os dias pro próximo jogo, já com a lista de lanches pronta e a esperança de encontrar outro cachorro de camisa azul no caminho. Vamos que vamos, Cruzeiro!